domingo, 25 de julho de 2010

Uma tempestade

Deitou na cama que lhe parecia enorme. Não era raro que aquela cama mudasse de tamanho, às vezes pequena demais para tantos sonhos e planos ou para tristezas e frustrações e, em outras, enorme, quando ela se sentia pequena naquele mundo tão assustador ao seu redor.

Naquele momento, a cama lhe parecia grande. Grande para acolhê-la, ela e as milhões de coisas que trazia consigo. Fechou os olhos, sem muita força e a fora imediatamente transportada para outro lugar. A grama sob seu corpo era fria em contra ponto ao sol que lhe aquecia. O céu estava muito azul e o sorriso foi involuntário.

Uma leve brisa começou, era algo suave, suficiente para que ela tivesse consciência que estava viva, que as coisas ao seu redor aconteciam e que o mundo não parara. Seus pensamentos fluíam sem problemas e atingiam a tal brisa. O que era calmante tornou-se desesperador. Tudo aquilo girava indiscriminadamente e ela se sentiu atingida por um tufão.

O céu azul sumiu sob nuvens negras. E ela percebeu que todos aqueles barulhos eram ecos, estava presa naquele redemoinho e não ia demorar para que a chuva começasse. Olhou em volta, não havia ninguém por perto. E algo lhe mantinha no mesmo lugar, sem gritar, sem se mover, sem fazer nada – será que queria aquilo?

Ouviu um trovejar – como saber se viera de dentro ou de fora? –, sentiu um trovejar: vibrou em cada parte do seu corpo. Era aquela inquietude familiar, que ignorou durante tantos meses. Foi inevitável o arrependimento... Não, não, não chova...

O clarão do raio fez com que ela arregalasse os olhos e, de repente, a realidade estava ali, na sua frente, sorrindo cínica. Quando ela aparecera? Quando, quando? E a chuva começou. Não limpava a alma, não lavava nada. Encharcava e pesava dentro dela, os ombros caíram e não tinha para onde correr (não adiantaria, tampouco).

Os pingos caíam como pontos de interrogação, desacreditando suas certezas e aumentando suas dúvidas. Era horrível. Ela precisava levantar, mexer-se, sair correndo. Mas não era possível. Tudo lhe segurava no chão e aquilo não era positivo. A cada segundo, ficava mais impossível sair dali.

E ela demorou demais. Não havia mais confianças ou certezas. Eram só dúvidas. E uma vontade de correr por toda a eternidade, sumir, desaparecer. E eram lágrimas se misturando aos pontos de interrogação.

Abriu os olhos. O mesmo teto. Pela janela, nada de nuves ou sol, era um azul escuro imenso. Ela boiava na cama, se afogando em dúvidas. Parte do sonho ou a total realidade?


L. ficou feliz por ter escrito. Ficará mais feliz quando essa chuva passar. Uma semana... Só mais uma semana.