domingo, 20 de fevereiro de 2011

Outras tantas vidas

São tantos rostos, tantos pensamentos confusos que até me confundem. Eu, sentada, observando-os chegar, parar e partir. É sempre o mesmo caminho, mas são tantos destinos possíveis que não se pode estimar.

Uns vão contentes, outros tristes, alguns rotineiros (embora eu ache que rotina e domingo sejam incompatíveis) e ainda existem os que simplesmente vão, esperançosos ou ansiosos, não sei.
Talvez haja ali, com certeza há um que pelo menos, que tem uma história incrível, que merecesse ser contada e divulgada ao mundo, mas essa tal história pode estar entrucada e esquecida num coração ou no sótão do cérebro.

Talvez aquela senhora séria, que eu poderia classificar como rabugenta, talvez essa senhora seja a mais velha de dez irmãos, numa das famílias grandes do Brás. Talvez ela tenha cometido um ato heróico, como salvar os irmãos de um incêndio, quando tinha apenas catorze anos. E talvez ela nunca conseguiu cozinhar bem por ter medo do fogo. Quem sabe?

Pode ser que nada disso tenha acontecido e a cara emburrada fosse só porque ela vai encontrar a nora e não gosta disso. Eu preferia acreditar que ela tenha sido heroína, assim, pelo menos, a vida valeria a pena.

E essa pequena com o punho quebrado? Ela é vaidosa, mesmo com o gesso usa anéis e sorri, como se o adereço fosse uma luva de princesa em dia de baile. Ela tem tanto pela frente, é a primeira coisa que se pensa quando vemos alguém com menos de meio metro de perna. O que será que a aguarda? Uma infância comum ou uma adolescência precoce? Eu torço para que ela seja feliz, mas não se pode não temer. Meu quê determinista grita e eu vou ignorá-lo, enquanto desejo boa sorte pra menininha.

Olhe o salto da garota! É tão alto e a orna tão bem, mas é domingo antes do meio dia, não deveria poder usar saltos que humilhassem meu chinelo. Ela se foi e eu nem imaginei pra onde...

Todos se vão, sempre se vão. Ficamos a menina do canto e eu. Ela também espera alguém, pacientemente. Seu olhar está perdido, talvez ela esteja idealizando seu domingo. Talvez ela não esteja tão paciente, está ligando para alguém e morde os lábios de pura ansiedade. Mas, se eu não estivesse aqui há bons minutos, consideraria-a calma.

O bebe japonês gruda-se na janela e olha para mim – alguém me viu. Ele daqui uns anos vai estar surtando para cursar algo com nanotecnologia, mas agora está pegando vermes e bactérias (criando anticorpos?), enquanto cola a boca na janela.

Somos só nós duas de novo, nossas companhias não chegam, mas não vamos embora, não ainda. Ela tenta ignorar o mundo e eu tento senti-lo, obviamente falhamos as duas, são tarefas sem chances de sucesso.

A companhia dela chegou. Eles arrumam as bolsas e já se vão. Formam um bonito casal. E eu fico aqui, ainda. Gosto de pensar na vida dos outros, é menos atrapalhado que pensar na mina, mas acho que me vou também.

Tem sol e um parque bonito lá fora, vou tentar não pensar em nada enquanto espero. Ou pensar em Fernando Pessoa e ver se consigo imitá-lo e viver outras vidas, ao invés de só supô-las.


L. Puglia escreveu isso na Estação da Luz, enquanto esperava a amiga pra irem na exposição do Fernando Pessoa, que, aliás, estava lindíssima.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Coisas simples(mente estrondosas)

Existe coisa mais comum que o seu nome? É a primeira coisa que você aprende a escrever, é a primeira coisa que te dão, que é seu, é a primeira coisa que te identifica como ser... Ao longo da vida, você vê e escreve e confirma e assina e lê e diz e ouve e responde a e sabe-se se lá o que mais você faz com seu nome centenas de milhares de vezes. Vai sendo criada aos poucos uma relação entre nome e nomeado, uma música ou um livro ou um personagem, ou qualquer outra coisa que compartilhe do seu nome dá uma estranha sensação de correspondência e simpatia. Porque não importa se outras muitas pessoas compartilham seu nome (já que são poucos os casos de exclusividade), aquele é seu nome...

Mas, então, de repente, você vê seu nome escrito em uma lista. Aquela lista que não tem nada demais: ordem alfabética, tinta preta no papel branco, letra tão minúscula quanto possível e nomes e números (que, sinceramente, não parecem refletir seu esforço e dedicação). Ver seu nome fazendo par com os quase outros onze mil, entretanto, é algo incrível e supreendente. Ali, existem quase onze mil histórias que mal pode imaginar, mas é a sua que se passa rapidamente na sua mente e agora tanto faz. Acabou. Você conseguiu.

Essa é a sensação mais incrível e extraordinária e maravilhosa e... Não, não sei descrever.
É uma lista, é seu nome. Não parece nada demais, mas contém toda a felicidade que você consegue sentir. Tão simples e bobo e tão... Único.



L. Puglia começou esse texto enquanto ainda parecida um macaco retardado pulando no ponto de ônibus e terminou quando já estava espiritualmente sóbria (mesmo que ainda esteja espantosamente feliz). Deseja PARABÉNS! aos que compartilharam essa sensação e muita força aos que sentirão isso ano que vem, tenho certeza.