quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Alma e Lua ou Uma diferença

A lua estava cheia, bonita. Perfeita para aquelas duas almas tão diferentes e tão estranhamente entrelaçadas. Eram, afinal de contas, almas de escritores (ou aspirantes a) e as almas de escritores sempre amam a lua só por ser... a Lua. (Na verdade, se escritores não fossem escritores seriam astrônomos, e nem saberiam o porquê.)

Ele estava deitado no sofá, a cabeça apoiada nas pernas dela, olhando o céu de ponta cabeça, enquanto fumava um cigarro. Só se endireitava pra dar um gole na bebida forte apoiada no chão da sala. Em algum lugar da sua mente a fumaça que turvava sua visão e encobria a Lua fazia muito mais sentido que todo o resto.

Ela olhava a Lua diretamente, encarava, desafiava. Mas o desafio não era tão sério. A fumaça do cigarro e o perfume, ambos dele, a embriagavam lentamente. Era o cheiro da noite perfeita, embora não fosse algo necessariamente feliz.

Não trocaram quase nenhuma palavra até então, embora já estivessem daquele modo há horas. De repente, olharam-se. Algo forte e inexplicável. Os olhares se prenderam de tal forma que pareceu que eles morreriam ali, sem nunca piscar.

'Vai dar tudo certo', ela murmurou ou simplesmente disse com os olhos.

'Que importa?', ele deu de ombros ou sorriu de lado com os olhos.

Era a diferença entre eles. Ela ainda gostava de acreditar, ter fé. Gostava de pensar em coisas boas e no final feliz. Ela queria que ele sentisse o mesmo. Queria cuidar dele e fazê-lo sorrir um sorriso alegre, como ela não sabia se já vira no rosto dele. Ele, ao contrário, não acreditava (desilusão?).

Algo sussurrava para ela que acreditar é condição essencial para uma alma, e ela sabia que ele tinha uma alma: então...? Desviou o olhar. Talvez ele tivesse uma alma grande demais pra ela.



L. Puglia escreveu isso ontem à noite e gostou, até. A Lua estava absolutamente linda ontem, e é impossível não querer escrever. O primeiro texto de 2011, finalmente.

3 comentários:

Ieska Tubaldini Labão? disse...

Um monte de intensidade em palavras tão sutis.
É, acho que é isso que eu mais gosto nas coisas que você escreve.
<3

j. e. ferreira disse...

E esse desmitificado satélite continua inspirando íntimas mitificações humanas... Parabéns! É um belo texto...

Yara Lopes disse...

Lindo. Acho que tenho que parar de comentar nos seus textos, porque os adjetivos tendem a acabar.
A lua realmente dá muita vontade de escrever. É como ler um livro muito bem escrito, sempre dá pra perceber alguma coisa nova.